quarta-feira, 6 de junho de 2018

O livro de segredos

                O homem calvo andava apressadamente por entre o jardim do castelo, carregava consigo um livro. Um especial, sua capa era de couro com adornos em dourado em suas laterais, em seu centro continha uma pequena pedra azul, porém aparentava ter uma pequena cúpula de vidro cobrindo tal preciosidade. Suas paginas eram amareladas, antigas e pelo modo com o homem andava segurando no livro, parecia algo de extremo valor.
                  Olhou ao redor tentando ver se alguém estava a espreita, existiam espiões demais, traições demais, podia confiar apenas nele mesmo, e em alguns dos seus irmãos de causa. Adentou mais fundo no jardim e deparou-se com um pequeno labirinto, lembrava de como era belo em sua memoria, mas vendo-o novamente depois de tantos anos parecia um mausoléu. Dobrou a primeira esquerda e contou os passos, de uma seis e adentrou nas folhagens. Deparou-se com uma porta no meio de um clareira escondida no jardim.
                    Assemelhava-se com uma cripta, uma pequena estrutura de pedras se erguiam e uma porta de madeira envelhecida protegia a entrada. O homem andou até a porta e murmurou algo, uma pequena brisa passeou pelo local e a porta se abriu. O subsolo sempre lhe dava arrepios, sempre pensava que estaria mais próximo de demônios se fosse para baixo. Ele adentrou segurando o simbolo de Eldrian, sabia que ele o protegeria. 
                A descida fora agoniante, o lugar era úmido e pequenos abalos faziam pequenas lascas de pedras caírem. Tudo parecia instável, e os pequenos abalos ficavam mais fortes na medida que ia se aprofundando no local. Apressou o passo, odiava aquela sensação. No final viu o caminho se alongar e uma grande sala preencheu seus olhos. Nela havia um grande circulo, no centro uma múmia, totalmente enfaixada e ao seu redor seis homens erguendo e descendo os braços como em um ritual, e a cada movimento um pulso de energia era gerado e o local tremia.
                Eles vestiam branco, com adornos em dourado, como os acólitos de Eldrian, mas no fundo em suas costas carregavam um grande sol dourado, com uma imagem de um dragão bordado ascendendo aos céus no meio. Eles pareciam concentrados, mas um deles notou a entrada do homem e saiu de sua posição em direção a ele. Estava em um dos extremos do circulo, mas ao sair de sua posição não se atreveu a passar pelo meio.
            - Irmão Calris - Disse o acólito - chegou a hora da iniciação?
          - Sim chegou irmão - respondeu Calris - Trouxe a vós o livro para saber qual sera o meu destino daqui para frente.
            - De-me um minuto irei dialogar com o conselho.
              O acólito voltou a sua posição e entrou em uma especie de transe, os abalos ficaram mais frequentes e os olhos daqueles que estavam no circulo ficaram dourados, e em uníssono disseram:
             
            Da grande luz nos surgimos, e ansiamos pelo seu retorno.
            Habitamos seu coração, vivemos do seu perdão.
            Guie-nos grande primogênito, para que possamos devorar nossos inimigos.

            A múmia estremeceu e a sala fora coberta por luz. Calris ajoelhou aos prantos, não podia tirar os olhos daquela luz, sabia que se perdesse essa oportunidade não haveria outra. Fechou um dos olhos pela intensidade mas o outro manteve aberto. E os acólitos continuaram:
       
                      Nos assim entendemos, sua piedade nos mostra o caminho;
                     O sacrifício sera-lhes dado e ele caminhará com seu conhecimento pela terra;
                     A voz da luz o guiara, e pelas suas bençãos seu corpo coberto estará;
                     Ao fim o destino se cumprira e  o coração da luz voltara novamente a bater.

             Calris levantou-se e segurou o livro como se sua vida dependesse disso. Abriu o outro olho e percebeu que o olho que permanecera aberto via o mundo de maneira diferente, como se a luz indicasse o seu caminho agora, a viu cobrindo o lugar e sabia para onde deveria ir. Os acólitos permaneceram em transe, como se sua mensagem já tivesse sido transmitida.
            O homem calvo saiu do local apressadamente, e sua comitiva já estava pronta fora do castelo. Quatro cavaleiros da guarda, um clérigo de sua seita, e um paladino, August Terry, ponderou a lealdade do homem naquele momento. Sabia de sua fama, mas não tinha certeza sobre suas reais intenções. De qualquer forma sabia que a luz estaria com ele, e que nada de mal lhe aconteceria.
          Guardou o livro em uma caixa dentro da carroça e disse aos homens para marcharem ao sul. Sabia que seria sua ultima viagem e que em breve veria a luz novamente. Pois no fim do caminho sua carne e seu espirito serviria para um proposito maior, uma libertação de uma nova era.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

O andarilho

           Tudo parecia distante, não importa o quanto caminhava, tudo parecia tão distante. Estava viajando por por tempos incontáveis e honestamente não ligava para isso. Seu nome era Elduin, um homem magro, cabelos grandes e bagunçados a ponto de sempre ter algum galho ou inseto neles, carregava consigo uma pequena flauta que todas as noites tocava para as estrelas. Como andarilho era feliz, alguém com quem você se deleitava ouvindo suas historias e bizarrices, alguém à se lembrar.     
                  Elduin, talvez você lembre desse nome. Bem, devo dizer que ele era famoso alguns anos atras. O rei das terras gélidas, o lobo branco, o devorador de cidades. Ele fora conhecido por muitos nomes de guerra, mas mesmo o mais sanguinário dos homens tem suas fraquezas. Ele era um pai além de tudo. Perdeu sua mulher no parto, e sua filha aos oito anos já cuidava do pai melhor que qualquer outro. Nenhuma vitoria no campo de batalha, nenhum elogio era bom o bastante em comparação ao sorriso de sua filha. 
               Com o passar dos anos Elduin era consagrado como o general e rei mais brilhante que essa terra jamais viu, e ele se portava como tal.. O seu maior erro foi ser arrogante, seu maior erro foi achar que poderia fazer tudo, seu maior erro foi achar que sua filha estava a salvo. Provocou a ira de assassinos, malfeitores, ao destruir seus templos, ao expor-los ao ridículo. E ao voltar para casa, viu apenas seu tesouro, sua dadiva em um caixão. Enlouqueceu com o tempo, e em uma noite desistiu de tudo e peregrinou sem rumo.
               Ele viajava por onde o vento o levava, e muitas vezes o levou a momentos inesquecíveis, como aquela vez que viajou até os confins do mundo e viu as luzes dançando. Ou aquela vez que pode provar do néctar da grande planta de Barbion no fundo das florestas de Calidum, ainda teve uma certa vez que viu os deuses, sim os Deuses! Todos eles majestosos, andando por entre as estrelas e bebendo da escuridão do universo. 
               Mesmo depois de tudo que viu o andarilho ainda sentia um vazio dentro de si. Viveu mil vidas em uma, sonhou como nenhum outro homem, degustou de cada receita que esse mundo podia provar, mas se via parado olhando para as estrelas todos os dias. Se questionando o que o futuro guardaria para ele, o que os deuses tinha planejado para sua vida. E todas as noites dormia com duvidas sobre o mundo que vivia. 
               No deserto os dias eram quentes demais, e as noites eram apenas solidão. Elduin caminhava por entre as dunas com sua caminha servindo de turbante e em suas calças apenas dois pedaços de carne seca. Não tinha encontrado aguá na manhã do oitavo dia no deserto, tudo parecia meio ilusório. Começou a ver fadas, o sol era um grande dragão que sempre baforava, e as dunas pareciam grandes tatus que vez ou outra levantavam suas cabeças para verificar o ambiente. Começou a achar que estava delirando e resolveu ignorar tudo aquilo.
            Tinha achado um pedaço de um cajado pelo deserto, talvez algum mago o tenha perdido ou sido devorado, quem sabe? O usou como bengala e a noite o quebrou e fez uma fogueira. A noite desceu sobre ele como a lamina afiada de uma guilhotina. O frio o fez retrair até parecer um bebê. Olhou os céus e novamente viu os deuses nas estrelas. As estrelas de moviam como em uma dança, e a forma desses seres era entrelaçado com as estrelas. 
              Viu duas silhuetas se erguendo, sentiu que esses dois eram irmão, não sabia como, mas sabia disso. Piscou algumas vezes e se viu sentado em uma mesa, em sua frente dois homens velhos, segurando um baralho de cartas. Eles colocaram as cartas cuidadosamente em cima da mesa, e ficaram estáticos. O andarilho olhou ao seu redor, tudo completamente cinza, ao longe pode notar uma pequena luz prateada, como um alvorecer. Em baixo viu uma cena estranha, um homem, aparentemente um mago, pelas vestes, estava aparentemente discutindo com dois seres escuros sem forma.
               Elduin não sentia nada ali, nenhuma dor, nenhuma felicidade. Absorveu tudo o que tinha para absorver dali, olhou para as cartas e olhou para os velhos. Avançou, com receio, para escolher uma carta, tudo parecia ter entrado em um ciclo vicioso, o alvorecer ainda continuava, com os mesmos raios de luz, os pequenos seres ainda pareciam discutir, como se estivessem em um looping infinito, e a unica que parecia ter escolha era ele.
                Sua mão parou em cima de uma carta, mas não teve coragem de pega-la. Olhou novamente para os senhores em sua frente, esperando algum sinal. Recolheu a mão e se postou a ficar de pé, com muita dificuldade. Os irmãos moveram a cabeça por onde quer que o andarilho andasse. Elduin por sua vez andou pelo ambiente, foi atras dos senhores, viu que estavam vestindo uma túnica cinza, que a primeira vista pareciam mesclar com o ambiente. Não tinham pés, ou não pareciam ter, viu as rugas em seus rostos e pode sentir o cansaço deles.
               Ali ficou observando os homens e os homens ficaram observando ele. Elduin aprendeu a ter paciência, em suas viagens aprendeu que o tempo era o mais sábio de todos, e ele sempre lhe dava uma dica. Tudo era sempre o mesmo, tinha decorado a ordem do brilho dos raios de luz, as posições do mago e de seus amigos sem forma, tinha até mesmo memorizado as rugas dos senhores em sua frente. 
               Toda vez que tentava tocar em um deles seu corpo reaparecia sentado na cadeira, como por magica. Pela primeira vez não sentiu aquele vazio, não sentiu a dor da caminhada, a dor do calor e do frio, da fome, do desespero de nunca saber o que precisava saber. Sentiu paz, e mesmo naquela situação se sentiu a vontade. 
               Olhou para os seres menores, viu um homem jovem, suas vestimentas um tanto queimadas, e viu as coisas negras sem forma. Como se se fossem crias da noite, ou das trevas do coração de um maniaco. Não gostava daqueles seres. Moveu sua gigantesca mão e a colocou em cima dos seres de escuridão, como se tentasse apaga-los. Os dois homens pareciam ter tomado curiosidade pelo o que Elduin fazia, e por um curto instante, o andarilho ouviu um pequeno ranger, um ranger que ecoou por todo aquele lugar.
               Olhou para traz e viu a dor nos olhos dos dois homens. Tirou a mão dos seres negros, e pode notar que nada aconteceu com eles. Mas sentiu que aquele ciclo tinha alterado, as luzes do alvorecer não eram mais as mesmas, o pequeno mago e seus rivais escuros mudaram das mesmas posições. Os velhos pareciam absortos em pensamentos distantes. Elduin se aproximou deles e notou que estes não o estavam mais acompanhando. 
                 Apenas por curiosidade, colocou sua mão nos ombros de um deles, mas para sua surpresa nada aconteceu. voltou a se sentar em sua cadeira, como que se estivesse decepcionado. e olhou novamente para as cartas. Os velhos olharam para ele, dessa vez que o rosto enraivecido. Cada carta se ergueu nos ares, como um escudo flutuante, e o velho andarilho sentiu que dessa vez não havia maneiras de escapar de sua escolha. Apontou para uma carta no extremo direito, e os irmão viraram a carta para ele. 
                  Em poucos instantes pode notar pequenos detalhes antes de desaparecer. Sua carta era um coringa, não sabia o que aquilo significava, mas não esperava coisas boas. Viu o mago desaparecer e os seres de escuridão se mesclarem com o cenário, todo o cinza do local ficou mais escuro. Viu os velhos abrirem a boca, e como se tudo tivesse desacelerado viu como se eles estivessem conversando, seus rostos preocupados. Viu no Alvorecer, la ao longe, como se sua visão tivesse sido aguçada, grandes formas voando, grandes dragões seguindo em uma direção.
                   Piscou os olhos novamente e se viu no deserto. O sol nascendo, as estrelas se despedindo. Levantou-se como se a fome e o frio nunca estiveram com ele. Olhou para sua roupas puídas, passou a mão em seus cabelas bagunçados. Sentou-se para observar o sol vindo ao mundo. Lembrou de quem era antes das viagens, um general, um rei, um pai. Sentiu que tudo precisava de ordem. Lembrou de suas perdas, das traições que tinha sofrido, e do vazio que era perder tudo. Porém mais uma vez sentiu as chamas de sua vontade se acenderem, um proposito a se seguir.
                 Subiu na mais alta duna que pode colocar os olhos. Viu ao longe seu destino. Moveu-se em direção as terras gélidas, sem nenhum arrependimento. Tinha um reino a reconquistar. Um proposito a seguir.
               Mesmo depois de anos viajando, sofrendo, aprendendo, o céu continuava azul. Iria mante-lo assim, mesmo que isso lhe custasse  a vida de milhões. Andou ao norte, com fulgor no coração. Andou ao norte com a determinação de um homem sábio. Andou ao norte sabendo que tudo estava para mudar. Andou ao norte sem nenhum receio.      

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Ascensão dos traidores (Cronos Stormfire)

              Ronnan andava pensativo pelo palácio de Faermir, sabia que precisava tomar providencias. Sua visita ao duque de Balbartos tinha-o deixado preocupado. A nova realeza nunca fora muito gentil com seus afazeres, mas contratar assassinos já estava além do comum. Sentou-se em um banco ali próximo e começou a folhear seu grimório. usou um pequeno feitiço de comunicação e alertou Amelia, sua mulher, sobre os desastres vindouros.
               Levantou-se e prostrou-se a andar para fora do local, não sabia se estava sendo vigiado. Apressou o passo ao passar pela guarda, já sentia alguns olhares de deboche para sua pessoa. Ele ainda era de uma família nobre, como essa plebe tinha coragem? Mas não questionou esse fato, estava apenas preocupado em voltar para casa.
                  Seus últimos anos não estavam sendo bons, depois da convergência tudo havia mudado. O novo imperador tinha baixado diversos decretos caçando os prováveis receptáculos do reino, caçando diversos direitos de alguns nobres, e Ronnan só manteve sua posição em troca de alguns favores. Estava agora falido e com a chance de perder o seu filho favorito, mas tinha esperanças que ele fosse escolhido. Os imperadores de Faergun não duram muito, se é que você me entende.
                  A caça tinha sido aberta por alguns meses, a guarda real ainda averiguou sua família inteira, verificando se algum deles tinham as características de receptáculos. Felizmente, na época nenhum deles demonstrou isso. Porém, alguns meses depois as caçadas pararam, e isso foi devido ao questionamento de um dos parlamentares ao imperador em uma reunião de guerra. As suspeitas levantadas nessa reunião ainda repercutem até hoje. Ronnan tinha participado dessa reunião e sabia que o inimigo não estava fora de Faergun.
                  No avançar das ruas viu pessoas o seguindo. Ou seria apenas paranoia? Não tinha como saber, mas utilizou uma magia de avanço rápido para despistar qualquer um. Chegou em sua casa, a mansão Brandburden, e já avistava algumas carroças sendo carregadas. Viu sua mulher e seu filho Ryard já prontos para partir. 
             - Apresem-se!  - Ofegou Ronnan. - Estão com o ouro?
             - Estamos, marido - Retrucou Amelia. - Mas não achamos cronos.
             - Não se importe com isso, consegui algum tempo para nós. Não é muito, mas precisamos sair daqui.
                   - O que tanto lhe preocupa, pai? - Questionou Ryard de maneira pretensiosa - Pensei que vosso status fosse nos salvar.

             Ronnan avançou e deu um tapa na cara dele. Sempre admirou seu filho por sua capacidade de aprender rapidamente qualquer magia, mas seu jeito mimado sempre era um balde de água fria. Esperava apenas que o moleque fosse imperador que sua importância se elevasse na sociedade. Amelia olhou feio para o velho mago.
                - Não há necessidade disso - Respondeu ela. - Já temos problemas o suficiente para nos preocupar.
            - A situação é pior do que imaginávamos, Amelia - Respondeu Ronnan, subindo na carruagem. - Já estão cobrando minhas dividas, o imperador expediu um decreto caçando alguns nobres, uma lista que foi passada para um grupinho de soldados e assassinos. E ainda vem esse moleque questionar nossa situação!
                - Mas até algumas semanas você tinha dito que estávamos seguros! - choramingou Ryard.
                - Andem logo, explico no caminho! - Exclamou Ronnan, dando movimento à carroça.
             Deixaram para trás muita coisa. A grande biblioteca do mago foi dada como pagamento de algumas dívidas, a mansão foi trocada por ouro para sobrevivência da família e alguns segredos, em troca de tempo.
                - Você ainda não disse o que aconteceu com Cronos. - Resmungou Amelia.
                - Ele serviu a um proposito maior, mulher. - Disse Ronnan, olhando preocupado para a estrada.
               - O que aconteceu, marido? Eles descobriram da Fênix?
              -Silêncio, mulher! você quer que sejamos mortos também?
              - Também!?
         - Na reunião dos parlamentares, alguns meses atrás, foi colocado em pauta o porquê dessa perseguição ter começado, se estávamos aliados aos bastardos de Atius, o porquê do imperador não iniciar os ataques com força total. Acontecece que muitas duvidas surgiram ali e nenhuma delas foi sanada.
              - E o que isso tem a ver com meu filho, Ronnan?
             - O duque de Balbartos me alertou que O Manto estava na cidade, que o imperador tinha feito contratos com eles. E estavam buscando "inimigos" do estado. Acontece que a caçada não parou, os bastardos continuaram por debaixo dos panos.
           - Ronnan, eu não estou gostando o rumo dessa conversa.
           Eles já estavam para sair da cidade, alguns guardas já tinham verificado os documentos da família e os tinha deixado passar pelo primeiro portão. Quanto mais avançavam, mais Ronnan sentia olhares em sua direção. Tinha pedido para família usar roupas simples, e ele mesmo estava usando magia para disfarçar suas vestimentas, mas ainda assim um instinto lhe pesava a mente.
           - Eles me interrogaram hoje pela manhã - continuou Ronnan - queriam saber quem era o tão aclamado receptáculo de nossa família.
           Ryard se ajeitou no banco da carroça, estufando o peito.
            - Quem te interrogou, marido? 
           - Algum dos homens do Manto, não tinha símbolos nem usavam vestimentos do castelo, você sabe como é Amelia, seus anos naquele laboratório não te ensinou nada sobre discrição?
            - Ronnan, pelo amor de Faergun, fale de meu filho logo.
            - Eles o levaram, Amelia - disse Ronnan, vendo a expressão de terror na cara da mulher. - Era a unica alternativa, era isso ou eles nos matavam, consegui esse tempo para conseguirmos sair da cidade.
         - Você entregou meu filho, seu filho de uma puta? - Rosnou Amelia. - Depois de tudo que passamos, você entregou o meu filho?
           A voz elevada de Amelia chamou atenção de algumas pessoas que passavam por eles. Ryard não demonstrou nenhuma reação em relação a noticia de seu irmão, mas não parecia estar triste.
           - Silêncio, mulher! - rosnou Ronnan -  Você quer matar o resto de nós?
           - Você sempre foi assim - respondeu Amelia. - Um covarde que prefere sacrificar o próprio filho do que encarar a verdade.
          - E qual verdade seria essa?
          - Que você sempre será um banana, um projeto de homem. E, sinceramente, já estou cansada disso tudo.
            Ronnan viu um homem se aproximando da carroça, com um manto cinza. A ação foi muito rápida. O homem sacou uma adaga e arremessou contra ele, que rapidamente conjurou um feitiço já preparado, moveu-se magicamente alguns metros para fora da carroça e a adaga passou direto. Atirou algumas rajadas de fogo no assassino e a confusão generalizada iniciou-se. A carroça disparou, Ronnan pode perceber que sua mulher estava no comando e sua intenção, pelo o que aparentava, não era esperar pelo marido.
          Ele, no entanto, prostrou-se a ler seu grimório, procurando algum feitiço que o pudesse ajudar. Saiu correndo no meio da multidão confusa, alguns guardas gritando ao longe "peguem o mago, ali, ele está ali" e viu seu perseguidor se aproximando. Chegou em um beco e começou a conjurar uma magia quando sentiu uma pontada no estômago. Ao seu lado estava um homem, mas como não o tinha notado antes?
           Era baixo, com cabelo negro e ralo, tinha rugas pelo rosto e usava um manto negro. Sua presença passou despercebida por Ronnan, mas não sabia como. Ele estava literalmente no seu lado, em um beco claro, durante o dia. Viu o sangue preenchendo sua vestimenta, olhou para a camisa, e começou a fazer algumas orações a Faergun. Assim como o homem surgiu, desapareceu, em um piscar de olhos Ronnan estava só. Viu ali uma oportunidade, conjurou voo e disparou para cima. Viu os jardins externos, e viu em seu encalço alguns dragões de patrulha.
           Desceu nos jardins, segurando o estômago, conjurou uma magia de ilusão e desapareceu da vista de seus perseguidores. Ronnan não sabia para onde ir, nem como iria sair dessa situação, então andou até se sentir seguro. Achou o cemitério local e escondeu-se em uma cripta. Usou uma magia de fogo para tentar cauterizar a ferida e desmaiou ali mesmo.
            Acordou com os sinos dos soldados, que alertavam o toque de recolher. Já era noite. Notou que ao seu lado tinha um bilhete, escrito com sangue, aparentemente seu. 
                   "Traga a fênix para o templo de Átropos em Alban. Não brinque com a sorte, mago, a vida de sua mulher depende disso." 
         

          Ronnan levantou-se, meio desajeitado. Lembrou da época de pesquisas do reino, lembrou por que tinha desistido daquilo. Mas amava Amelia mais que a vida, e não podia abandoná-la nas mãos de assassinos. Conjurou novamente sua magia de ilusão e seguiu em direção ao antigo laboratório. 

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Hultan e a voz da floresta (Hogg Widd)

        Acordou com o cheiro de terra molhada, não se sentia assim à algum tempo. Levantou olhou a floresta que o cercava, e como de costume agradesceu aos espiritos por mais um dia de vida, por ter sobrevivido ali. Não viu a luz do sol ha dias, naquelas áreas a floresta era tão densa que nem mesmo a luz tinha permissão para estar ali. Hultan era jovem, mas destemido como nenhum outro, tinha adquirido fama em seu clã pelo seu comportamento sensato e sempre estar sempre um passo a frente de qualquer inimigo. Mas ali no meio da grande floresta, se sentiu pequeno e sem estrategias.
         Ergeu seu totem de urso e rezou, ficou ali proximo de algumas arvores por alguns minutos em seu ritual. Sentiu olhares da floresta o cercando, mas sabia que nenhum mal cairia sobre ele durante seu momento sagrado. Terminou suas orações, pegou o restante de seu suplimentos: uma corda, quatro (4) rações de viagem, uma adaga sem fio, e seu fiel machado. 
         Tinha partido de seu lar há 223 dias, e sinceramente, não se lembrava mais do gosto de uma sopa quente, ou do calor de suas esposas. Houve tempos mais dificeis, dias sem agua ou comida, dias de feras e dias de calmarias tenebrosas, mas ali sentia se aproximando de seu objetivo. Partira com o intuíto de encontrar os primordiais, os primeiros a entrarem no mundo em sua criação, os primeiros a permitirem que a vida se propagasse.  E agora ele sabia que estava perto de alcança-los.
           Aprontou-se com o que tinha, sentiu falta de Widd, seu lobo, eterno companheiro. O tinha perdido alguns dias atras em emboscadas por goblins e orcs, seus caminhos tinham sido divididos por uma queda d'água. Colocou seu machado nas costas e sentou-se para observar a floresta. Sabia que estava sendo vigiado, só não sabia pelo o que. Concentrou-se novamente, pediu aos espíritos um caminho. Ficou ali alguns minutos apenas observando, notou pequenos olhares em sua direção, as cobras que passavam à alguns metros dele, os filhotes de wyrms voando silenciosamente sobre sua cabeça. A floresta estava mais viva no silêncio.
             Levantou-se em um sobressalto e disparou pela floresta, notou o súbito movimento da floresta. Correu por alguns metros escutando os grunhidos e rastejos em suas costas. Viu a sua frente uma pequena clareira, a luz do sol penetrava ali, disparou com mais vontade, não pelo fato de ter algumas feras lhe perseguindo, mas por poder sentir o calor da vida novamente.
                A luz encheu seu olhos, e por alguns instantes estava cego. Sentiu uma mordida em seu ombro. Um urso o tinha alcançado. Teve pena da criatura, agarrou o focinho da criatura com uma mão e a fez soltar. O urso estava furioso e atacou novamente, Hultan por sua vez, bateu com o cabo do machado na cabeça do animal, que por sua vez caiu tanto. O restante dos perseguidores pararam em seus esconderijos na floresta, nenhum deles se atreveu a entrar na clareira. O homem do machado arrastou o urso para dentro da floresta novamente, não necessitava de mortes de seres inocentes.
              Olhou para clareira agora, sentiu o calor, e notou uma pequena casa logo ali no centro dela. Parecia abandonada, mas sentiu que seus ancestrais o alertavam sobre aquele lugar. Não era seguro. Andou com cautela ao redor do local, não sabia o que podia esperar dali. Não notou nenhum movimento, então se aproximou, e quanto mais se aproximava sentia os espíritos de seus antepassados o deixando. Mas seu patrono, que estava em seu colar, não o abandonou e lhes transmitiu o sentimento do local. Raiva e repulsa, era tudo o que havia ali.
                Hultan sabia que em Calidium tudo podia ser encontrando, e sentiu que ali não era para assunto dele. Decidiu que seria melhor não incomodar o residente, quem quer que seja, tinha deixando muita coisa para traz. Viu o sol e soube a direção que tinha que ir, seguiu para o oeste.
                  Dentro de calidium tudo era mais vivo, mesmo as arvores tinham vida. Assim Hultan já estava acostumado com a mudança de caminha que as arvores o fazia seguir. Elas brincavam com os desatentos. Mas ele já ela velhaco nesses truques e sempre sabia qual caminho seguir. Passou-se seis (6) dias após sua visita a clareira e ouviu um estrondo, como se fossem passos. Por alguns instantes pensou nos gigantes, não os tinha mais visto no exterior da floresta, imaginou que eles tinham migrado para o centro dela. Mas viu ao longe, uma arvore se erguendo e andando para o oeste.
                   Soube ali que os tinha encontrado, os primordiais. Correu como nunca, mas manteve uma certa discrição. Aproximou-se lentamente e o seguiu por três (3) dias seguidos. Dia ou noite o Ente não parava. Na tarde do terceiro dia viu outros se aproximando do que estava seguindo. Os viu chegando perto de um grande poço, era verde sua água, e notou que ela seguia pequenos caminhos por todas as direções, como se banhasse a floresta. Ouviu os ranger das entes, e Hultan se sentiu orgulhoso, por estar ali no contro de Calidium.
                  Os entes por sua vez, pararam em frente ao poço e cada um ergueu suas gigantescas mãos de madeira e as mergulhou no poço. O homem escondido viu eles abrindo o que seria uma boca, um pequeno buraco onde seria os rostos das criaturas, e eles bebiam e rangiam. Suas folhas ficavam mais verdes, seu tamanho aumentava, e Hultan podia jurar que viu as arvores ao seu redor ranger e crescerem. Ali ficou aturdido com tudo aquilo e não notou algumas arvores tramando sua captura.
                   Sentiu apenas a puxada no calcanhar, e seu mundo ficou de cabeça para baixo. Não tentou ferir nem mesmo um galho dali, sabia que ele era o violador, e devia manter o respeito. Os entes olharam para traz e viram um grande homem cheio de cicatrizes, com o peito amostra, com um grande machado nas costas e coberto de pelo de animais em seus ombros e quadril, mas parecia um homem das cavernas do que o filho do líder do clã Ventofuria. Todos os entes se aproximaram, e vários galhos envolveram o corpo do invasor.

           - Meus bons senhores - disse Hultan antes que seu corpo fosse todo coberto de ganhos e vinhas - Procuro Ancam o antigo, trago uma mensagem dos espíritos.

             Os entes pararam, os ganhos pararam, e O homem sentiu alivio. Dentre eles, um grande ente com o suposto rosto quebrando aproximou-se, as folhas dele eram marrom, como se a velhice já o tivesse alcançado. Tinha o que parecia uma grande barriga, e seu braços eram maiores que o corpo, tanto que arrastavam no chão, em suas costas se erguiam vários galhos com pequenas chamas neles, chamas douradas.
               O velho ancião se aproximou mas não disse nada, os outro deram alguns passos para traz e os rangidos eram audíveis novamente. Por sua vez Hultan disse:

              - Grandes anciões Venho trazer uma mensagem de desespero de meus antepassados, tempos de tribulações estão chegando, nosso inimigo ao norte prepara seus enxames, nossos inimigos ao sul reúnem traidores, mas além disso, me foi alertado sobre a advinda do profanador. Ele vira por entre convergências e cobrara de nos mais do que estamos preparados.
             Hultan podia jurar que elas estavam preocupadas. Os rangidos eram mais densos e secos. Por outro lado o Ente Ancam não demonstrou nenhuma feição (não que tivesse uma) mas ficou ali parado, como se não se importasse com aquilo.
            - Para o senhor - Continuou Hultan, falando diretamente com Ancam - Elram lhe pede para que o senhor tome cuidado com o passado brilhante, ele esta no limite, e do limite ele tira suas forças. Me desculpe grande ancião, mas me pediram para dizer apenas isso. Não tive intençã...
            Hultan fora jogado no chão, os entes se voltaram para Ancam como se esperassem uma resposta. Esse por sua vez apenas andou para o poço pegou um pouco de sua água e ofereceu ao visitante. Hultan parecia uma criança, não tinha entendido nada, mas tinha feito como lhe fora pedido. Aceitou o presente, e bebeu o liguido. Viu Ancam iniciar um cantico, sua voz era rouca, forte, e como o som de um trovão. Viu todos os outros entrarem meio que em um transe lento. Ancam com sua boca aberta abaixou e olhou no fundo dos olhos de Hultan, esse, enquanto bebia o liquido, pode ver o significado de ser parte de uma floresta.





              Hultan voltou a aparecer em sua tribo oito (8) anos depois, ele nunca comentou ou disse algo além de sua experiencia na floresta, mas o sorriso em seu rosto sempre estava amosta, e ele nunca deixou a floresta. E passou seus ensinamentos a seus filhos Hogg, Groot, Luna e Tania.
              Muitos dizem que Hultan seguiu todos os caminhos da floresta, sendo um druida, um caçador, um barbaro, e algumas vezes um Ente. Mas seu legado sempre existira no coração daqueles que querem proteger a floresta e a vida.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Fogo e Fúria (Faergun)

              Nasci do calor de todas as coisas, do caos do universo, do centro do sol. Meu corpo era apenas energia, uma grande bola de chamas e desejos. Os trovões anunciaram meu nascimento, a cada estrondo meu ser tomava forma. Minhas asas surgiram como um prenuncio, se ergueram sobre a terra, avisando que o governante de tudo que elas pudessem alcançar seria meu, e meu apenas. Minhas garras cravam a terra, e pilares de fogo nasceram da terra e celebraram minha presença. Meu corpo fora banhado por lava e pelas entranhas do mundo. E minha cabeça formou-se anunciando o novo deus por sob a terra, e as chamas que saiam de mim cobriram os céus e mergulhou o mundo em meu domínios.
                 Em poucas batidas de asas já dominava os céus, e naveguei pelo meu território, avistando pequenas criaturas de luz. Estes, por sua insolência, não se curvaram a mim ao me avistaram, e minhas garras tremeram de ânsia, e lembro-me de rasgar e devorar esses seres. E por muito tempo me deleitei com essas brincadeiras.
                Meu inimigo sobreveio como um pequeno raio de luz, mordeu a minha carne em um ataque surpresa, maldito covarde. Rasguei sua carne fraca com minhas garras e meu sangue e o dele permearam a terra. Subimos aos céus em batalha, a terra tremeu, e luzes e chamar cobriram a terra. O maldito cinza tinha um corpo pequeno, e se aproveitava disso, voava com mais facilidade, e me alvejava com pequenos ataques no ar. O dia de minha vergonha fora o dia da ruína dele. Cai na terra derrotado, mas marquei o corpo dele, as cicatrizes que deixei ainda o queimam, sua alma fora marcada por mim.
              Meu refugio fora montanhas e ali fiz meu lar. Moldei vulcões e cresci em poder e tamanho. Mas os combates não acabaram, e eu queria assim. Meu inimigo sempre se escondia, e aprendi em nossas batalhas idiomas, e ele me chama de Faergun, e eu o chamava de Eltoriac (o pequeno covarde). O ódio é o meu combustível, não permitira que tal vergonha pairasse por minha mente sem que a devida punição fosse dada ao meu inimigo. Me lembro de dias vermelhos, onde minha mente apenas projetava minha fúria sobre Eltroriac.
               As fumaças dos meu vulcões cobriam a terra, e a luz era rara. Mas a raiva e o ódio eram palpáveis. Nossas lutas eram em campos escuros, os trovões eram nossa plateia e o ar era pesado, e meu ser estava apenas focado em destruir o que quer que aparecesse em minha frente.
             Um novo incomodo nasceu, os céus se convergiam para um ponto, e dali Atropos tomou forma. Aquela criatura desprezível, outro covarde que pairava pela minha terra, meu reino, MEU REINO. A principio eu e Eltroriac não sabíamos o que estava acontecendo, mas as primeiras rajadas do recém chegado nos avisou que ali, não era lugar para amizades.
              Com o tempo outros surgiram, nenhum deles dignos de governar, mas suficientes para serem meus súditos. Dos meu sonhos nasceram meus favoritos, minhas crianças, meus soldados. Eles eram partes de minhas chamas, e nesse dia os abençoei e os coloquei em minha morada para proteger o meu lar. Eles eram seres de energia, gênios de fogo, elementais, dignos de meu reino. 
              Marchamos e conquistamos muitos reinos, e por muito tempo eu governei por entre muitos, e os covardes e seres inferiores corriam e se escondiam. E muitos viram que eu era seu verdadeiro rei, e varias raças me procuravam para oferecer seus serviços, e meu exercito crescia em numero e poder. Minhas terras eram as mais férteis, meu povo o mais sábio e poderoso, meu reino o mais belo e desejável.
              Nos anos de luta ainda nutri simpatias com Syphius, seu desejo incontrolável tomava minha mente, meu desejo por ela ainda é palpável. Apenas com ela estabeleci aliança, pois meu coração a desejava, e dela fiz uma aliada, e ela não nutriu raivas por meu reino. Dominamos muitos, e com o tempo iria mesclando nossos reinos.
            A grande desgraça veio. Lembro-me do céu escurecer como nunca tinha visto antes. As luas cobriam os céus como em uma dança, Atropos gritava maldições por toda terra, todos nos o escutamos. Senti minha escama praguejar, chamas negras e pedras estranhas caíram do céu e violaram minha pele. Vi meus aliados caírem e sofrerem.
             Os dias negros se seguiram e a morte cobria toda terra, marchamos para destruir o violador, marchamos para destroçar o traidor Atropos. A brutalidade fazia parte daqueles tempos, as batalhas não pareciam mais gloriosas, muitos colidiram, e o primeiro a cair fora Atropos. A morte não era mais algo tão distante.
          Muitos outros caíram pelas minhas garras e ali no final eu e Eltroriac nos encontramos novamente. Senti meu fim se aproximando, mas vi no olhar dele que ele também se sentia assim. Nossa luta não foi majestosa ou bela, ou mesmo honesta. Ali no fim na qual as chamas e a luz permeavam a terra, não houve xingamentos, ou provocações, fora como no inicio, apenas a brutalidade de nossos seres.
                Subíamos aos céus e rasgávamos as asas e as escamas um do outro, arranquei uma de suas patas e ele uma de minhas asas, e antes de cair arranquei uma parte de seu pescoço e ele em sua queda atravessou meu corpo com suas asas. Vi pela ultima vez pelos meus olhos o mundo. Tudo o que podia ser meu, o meu reino, os meus favoritos. Consegui me ergue mesmo que por um instante e vi o corpo cinza de meu velho inimigo no chão. Ergui minha asa aos céus e em minha ultima rajada tracei a meus filhos um caminho de chamas até mim. Ainda viveria ali não importa como.
                 O fim não foi escuro, ou frio, me senti quente, a minha chama ainda vivia naquelas terras, e meu corpo será um marco, para que todos lembrem do ser mais poderoso dessa terra. Meu orgulho permeara as futuras gerações, e meu desejo passará para meu povo como uma tocha. Vivi e morri como governante que sou. Mas minha historia não acabou ainda, não deve acabar assim. Vi a escuridão tomando meu corpo e depois uma luz cinza.


                Me chamo Dalia, primeira imperadora de Faergun. Após a convergência venho a vocês me pronunciar, declaro aqui, que o nosso desejo será ouvido por todos. Nossos exércitos passaram por todos os nosso inimigos, e o nosso poder se erguerá esmagando os covardes e fracos desse mundo. Venham comigo irmãos, pois sim, somos os mais fortes, e sim os mais destemidos e orgulhosos, e sim toda essa terra será nossa, eles querendo ou não. FOGO E FÚRIA.  

domingo, 1 de abril de 2018

De: Enoque; Para: Alberto

      Dia 06 de outubro de 3518 DLS

       Caro amigo Alberto, escrevo para você nesse dia chuvoso para compartilhar minhas paixões e aventuras, pois devo dizer que achei algo que sempre busquei. Na segunda lua deste mês de outubro me deparei com a coisa mais bela que os olhos de um mortal poderia ter vislumbrado, uma dama caro amigo, mas não qualquer dama, a mais bela e formosa de todas. Ainda lembro de seus cabelos ruivos acompanhando o vento, sua pele morena sendo banhada pelas águas do rio de lagrimas, seu rosto tão belo quanto a noite.
        Devo lhe dizer que não pude resistir e me deparei correndo atrás de seu corpo nu. Mas para minha surpresa seu corpo cresceu, e escamas surgiram, e no lugar de dentes presas surgiram e asa brotaram de suas costas. Por um segundo pensei que morreria mas ela simplesmente levantou e deixou tudo o que tinha para trás. Enquanto lhe escrevo esta carta me atenho a um pequeno talismã feito de raízes que encontrei no corpo de minha amada.
          Mas devo deixar de devaneios pois esta escrita é para lhe dizer um curto adeus, pois partirei hoje em busca desta bela criatura irmão de caça. Talvez nossos destinos se cruzem na posteriori, espero que você consiga achar os tais assassinos que tanto procura, mas devo dizer que tal procura nunca lhe trará paz meu caro. No mas, deixo-lhes algumas moedas de ouro (há 12 moedas, se tiver menos o mensageiro roubou), e mais um amuleto que me foi dado pelos filhos da floresta.

De seu amigo e irmão: Enoque.



Dia 14 de março de 3519 DLS


       Caro Alberto busco ajuda para um pequena incursão nos mares de Jamudur, encontro-me na taberna do lobo do mar, ainda em busca de marinheiros e de moedas. Mando essa carta em caráter de urgência. 


De seu amigo e irmão: Enoque.


Dia 23 de maio de 3519 DLS

         Devo dizer que o que aconteceu no porto foi uma infelicidade mas era para um proposito maior, desculpai-me irmão. As coisas não melhoraram Alberto, já estamos a dias no mar e nada de minha bela amada, sinto que cada vez mais estou á perdendo. Os marinheiros já me tratam como louco, mas eles não viram o que eu vi. Ainda lembre daquela pele dourada, daqueles olhos purpuras. Ela esta em minha mente o tempo todo, já assombra os meus sonhos, o meu horizonte. Eu a quero,amigo mais do que ouro ou joias.

De Enoque


Dia 03 de julho de 3520 DLS


       Eu a encontrei meu caro irmão, finalmente a encontrei, em uma ilha a cercamos, e a capturamos. Minha rainha, a minha deusas, ela é minha meu amigo, apenas minha. Mas estou desconfiando dos outros marinheiros, eles parecem querer a minha deusas assim como eu, talvez terei de me livrar deles. Estou mandando meu querido Plamus com essa carta, pois não há mais mensageiros em ilhas no meio do mar, e acredito que ele também inveja do meu amor por minha amada.

Enoque

Dia 10 de setembro 3521 DLS

       Espero que esta carta chegue a alguém, pois aqui jaz Enoque, e pelos deuses não lembro mais do meu sobrenome. Conto-lhes que busquei em vão uma bela dama, acreditei por muito que isso seria uma historia de amor, mas me deparo em uma cela, com fome e cede, cercado de inimigos e com uma grande dor no coração.
      Devo-lhes dizer que além dos mares ha o inescapável, pois eu e minha falecida tripulação vimos o paraíso e o inferno, vimos belezas e atrocidades e vimos o fim de todas as coisas, o fim do nosso mundo. Estou nesse momento em pose de um povo com asas, a priori pensamos que fossem anjos nos ajudar enquanto estávamos a deriva. Mas o alivio durou pouco e meu companheiros foram queimados como insetos, por chamas brancas e douradas. 
      Meu amigo Alberto se um dia você ler essa carta, saiba que sinto muito, por tudo que lhe fiz passar, por meus caprichos e por minha traição no porto. Não cometa o mesmo erro que eu, pois a criatura que persegui mexe com a mente de todos, nos engana, nos arrasta até o inferno e nos deixa apodrecer la. Ela e como um arco-iris, seus cabelos mudam com o seu gosto, sua pele é macia e seu amor é doce e fogoso, mas suas palavras são farpas e seu coração gelado. Nos a tentamos matar, mas ela era forte. Apenas sei o seu nome Heria, grave esse nome irmão e fuja toda vez que a ver.
        A quem mais encontrar essa garrafa além dos mares revoltosos se tem apenas monstros gigantescos e o sonho de voltar para casa. Aqui me despeço desse mundo, queria poder ter sido um bardo ou um grande contador de historias, mas aceito a lança de desconhecidos como presente de minhas traições.

De Enoque o viajante.

segunda-feira, 26 de março de 2018

O pequeno dragão perdido

Da historia de Eldrian; O Dragão da luz

     No inicio Eldrian se sentia só; No meio da maré de todas as coisas ele descansou num pedaço de rocha a deriva. Era o menor dentre todos os seus semelhantes; possuía asas muito maiores que corpo; garras afiadas e curvas; seu corpo cinza se destacava na terra marrom, e a cada revoada um brilho surgia de suas asas, um brilho pálido e sem sentimento, pois ele não sabia o que sentir ou para onde ir; um pequeno dragão perdido.
      O mundo parecia tomar forma com o tempo, e Eldrian parecia apenas um espectador. Por um incontável tempo ele viu as montanhas surgirem, fogo e rocha caiam do céu, e  toda terra tremia, e muitas das maiores montanhas que conhecemos vieram desses tempos. 
          Tinha medo do céu no primórdio do tempo, pois de la vinha coisas que ele não compreendia, rochas caiam como bolas de fogo, e pequenos clarões surgiam como se estivesse furioso com o pequeno dragão. Escavou o chão para achar um lugar para se esconder e descobriu uma infinidade de pedras brilhantes e aproveitando-se de algumas delas fez uma moradia, um lugar onde o seu brilho não era mais pálido, um pequeno castelo de cristais e todos os presentes que recebia dos céus, e nesse lugar suas asas se abriam por completo e seu brilho já não era mais sem vida, e viu todas as cores, além do cinza.
        Em seus sonhos ele viu outras criaturas, seres feitos de luz, vagando pela imensidão do universo, e escutou suas conversas, e por muito tempo permaneceu assim, escutando esses seres, os seguindo, mas estes não o notaram e prosseguiam seu rumo por entre o nada. Em seu despertar Eldrian notou que seu corpo havia crescido e destruído sua casa de cristal, suas asas brilhavam como o dia, e pode ver um céu azul, e notou que o dia não era tão caótico, e viu o sol no alto e sentiu paz.
      Ele voou como o vento, e despejou seu brilho por toda terra, e viu pequenos seres de luz nascendo do seu poder, e os chamou de Lepius (filhos da luz) e com eles vagou, e apelidou esse mundo de Lemius (casa da luz) e por muitos anos estava satisfeito.
   O surgimento de Faergun não agradou a Eldrian. O grande dragão vermelho surgiu em sua plenitude e dizimou quase todos os filhos do dragão da luz. Suas chamas macularam toda uma terra que fora construída com o passar dos anos.
      O corpo de Eldrian tremeu de fúria e avançou contra o dragão de chamas. Essa batalha durou dias, e a cada mordida os dois tremiam de dor, e os seus rugidos tremiam a terra, e fogo brotava dela, e a luz parecia ter sumido, toda focada em um único naquele momento. O mundo tremeu como em tempos imemoriáveis, e muito pouco restou do pequeno mundo construído pelos seres de luz. Mas a luz prevaleceu e as chamas caíram na terra e la, mergulhada em um mar de fogo, ficou.
        O vencedor, porém viu que seu corpo havia sido destroçado, e recolheu-se para descansar, e os seus filhos restantes fizeram um grande castelo para seu criador, um castelo de cristais, e la ele descansou e recuperou suas forças.
         Nos tempos que se seguiram a luta entre os dois dragões foram ficando mais violentas e mais devastadora. O ódio deles cobriu os céus, onde antes apenas se via o dia e a luz, foi coberto por uma imensa escuridão, e dela nasceu outro dragão. Muito do que se segue nesses eventos foram guerras e destruição, onde cada um deles usou de quaisquer maneiras para acabar com seus inimigos.
           A sua luta com Átropos repercute nos dias de hoje. Nesses tempos apenas havia o dia, a luz era completa e se alongava por tudo e todos, porém a advinda do dragão do ódio o luz recuou. A batalha desses dois afastava e e atraia a luz e esses embates ficaram conhecidos como dia e noite, a eterna luta da luz contra a escuridão, e O dragão da luz odiou mais ainda seu semelhante.
          Com a advinda dos mortais Eldrian os reuniu e lhes disse:
    - Minhas crianças, juntai a mim, pois sou eu o mais sábio e o mais forte dentre todos os seres nessa terra. Serei seu protetor e seu senhor a partir desse momento.
          E desde então o pequeno império dele cresceu, e foi o primeiro reino da terra de Lemius, e Eldrian (chamado por alguns de seus súditos de Bahamut) desenvolveu aquela região estabelecendo cultos a sua imagem, pois seu ego crescia com o tempo, e via toda a adoração a si e cercou-se de espelhos e se admirava constantemente. 
             Odiava Faergun por seus feitos e por sua arrogância, Odiava Átropos por ter afastado a luz do dia, subistituido-a pela noite. Amava Ellvis, pois com o surgimento dele, podia sentir o fardo de se ter apenas raiva e ódio no mundo. Cresceu admiração por Garmash pois via e ouvia seus rugidos e sua devoção pela vida, pela luz. De Syphius nutriu indiferença, sabia de sua origem, mas teve compaixão por suas criações, tratando-a apenas como um vizinho indesejável. Não nutriu amores por Behelter mas admirava sua resistência, pois nas batalhas que teve com ele, os motivos nunca eram de ódio, mas de estrategia e necessidade.
             De Ulneia nutriu desconfiança e em nenhum momento abriu suas portas para nenhum de seu povo. De Ocorius sentiu medo, pois ele vinha das profundezas da noite e do desconhecido, e temeu  pelo seu reino e pelo seu poder, e declarou guerra contra esse novo dragão. Este porém não ficou nas terras dos mortais, indo novamente para o desconhecido.
           O dia da lua-sol foi o fim de uma das grandes eras. Átropos em seu ato mais vil convergiu todo seu poder para um ritual na qual fez as 8 luas se coliderem, e a morte se fez presente em todo mundo, e as rochas de fogo que vinham dos destroços das luas colidirem com os dragões e muitos deles sentiram a dor, como nunca tinham sentido antes, e nos anos que se seguiram muitos deles morreram, pois suas escamas se tornaram frágeis e seu poder enfraquecido.
          E assim, como antes, Eldrian e Faergun lutaram nos céus e ali os dois morreram, despencaram e caíram no mar, e desde então muitos tomaram as vontades, ódios e desejos de seus lideres caídos, e perpetuaram a chama desses reinos.
           Eldrian no entanto vagava por um lugar cinza, sentia-se só, sem luz, sem um proposito, quase imerso em uma inexistência. Mas ao longe viu um pequeno ponto de luz, e ao chegar próximo viu um grande pilar luminoso, onde outros imperadores estavam ao redor, como se estivessem em transe. Eldrian recuou mas sentiu seu corpo pesar, e se viu se aproximando sem sua vontade, e por um instante viu pequenos seres de luz, como tinha visto antes em seus sonhos, o empurrando para o pilar. Se sentiu triste, pois não era esse o destino que desejava para si. E emergiu em um transe, como se caísse no sono.
            Ele abriu os olhos, sentiu o limite de seu copo, olhou para suas mãos, mas não lembrava de ter mãos. Viu um grande salão com varias pessoas ao redor, todos eles trajados em mantos de cerimonia, e viu um pequeno feixe de luz atrás de si, e viu pequenos camarotes ao redor da sala e uma grande porto a sua frente. Sentiu a fragilidade em que estava, mas também sentiu como se outro convivesse em sua mente. E as portas se abriram e vários homens de armadura se aproximaram e se ajoelharam e tiraram seus elmos e disseram: 
           -VIDA LONGA AO IMPERADOR, VIDA LONGA A ELDRIAN.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Convergência Draconica

DO INICIO

    No início tinha o caos. Não havia nele formatos ou pensamentos, apenas a magnitude caótica de tudo o que há. Então, do fundo de uma maré caótica, o primeiro dragão nasceu. Veio como um pequeno feixe de luz e vagou por tudo que ainda estava sem forma. 
    A cada movimento do dragão, algo a mais tomava forma. Uma estrela, um planeta. Tudo parecia ser movido pelo recém nascido. E este, ainda encolhido por entre suas asas cinzas, teve medo de tudo que aquele lugar proporcionava. Não sabia para onde ir, ou como fazer para toda aquela confusão acabar, mas, por fim, viu a luz se formar diante dele.
   Ele caiu na pequena porção de terra que se formava. Não sabia quanto tempo tinha se passado desde que acordara, mas não parecia muito. Essa terra era firme, sem muito caos. Um local a se descansar, a se viver, o que quer que seja isso.
    Vagou por essa imensidão vazia de terra por muito tempo, mas aconchegou-se nas pedras e nuvens dali. Ali vivia, e ali ergueu montanhas com a facilidade que seu corpo provinha. E moldou a terra, e aproveitou cada partícula de luz. Era assim que ele viva, o dragão sem nome, o qual seu lar era tudo que existia.
    Mas aua paz não durou a eternidade. Dizem as lendas que o sol teve inveja da liberdade desse pequeno dragão e mandou para essa porção de terra um outro dragão, tomado pelo fogo e fúria. Despertou das chamas que brotavam da terra e ascendeu aos céus com todo seu esplendor. O céu avermelhou-se nesse dia, e ele gritou à toda extensão da terra. Sua voz era grave e poderosa, de sua boca brotava chamas de todas as cores e a cada bater de sua asas, o sol parecia se deleitar.
    O pequeno dragão cinza sentiu seu coração pesar, e voou em direção ao novo residente de seu planeta. É dito que o grande dragão vermelho postou-se agressivamente diante de seu semelhante, e que nenhuma intenção de paz fora transmitida. O conflito foi inevitável e pela primeira vez sangue fora derramado no solo do um novo mundo.
      O dragão cinza saiu vitorioso desse embate, mas recolheu-se para montanhas que havia criado. O outro dragão caiu dos céus e fez com que as montanhas jorrassem fogo de seu picos, mas não morreu, apenas dormiu.
      É dito que o dragão cinza sonhava constantemente com outros dragões e outras criaturas menores, e que desses sonhos ele aprendeu muito. Primeiramente tomou o nome Eldrian (a luz de outrora) para si, e desejou mais do que apenas o vazio. Tinha visto todas as possibilidades mas permaneceu em seu descanso.
      É dito que, por muitos anos, Eldrian batalhou com o dragão vermelho. Apelidou-o de Faergun (chama violenta), e o ódio de um pelo outro crescia a cada dia. Esse ódio, é dito, escureceu os céus, e entristeceu os dois dragões. Em uma de suas batalhas esse ódio tomou forma, e dele veio o grande dragão negro, o posteriormente chamado de o traidor, a abominação, o profano. Átropos nasceu fadado ao ódio de todas as coisas vivas.
     Eram dias confusos, batalhas confusas, por ego, por espaço, por motivos que não há de compreendermos. Com a vinda de Átropos a noite pode vir e, com ela, a batalha constante entre noite e dia, sua transição era sempre a batalha dele com Eldrian. Os períodos de noite e dia eram definidos pelo combate. É dito que, devido a essas batalhas, sem nunca ter um vencedor, a terra mudou de forma e dos destroços a lua surgiu, e dela nova vida nasceu.
       Das sombras da lua Ulneia ela surgiu, saindo da escuridão e amando-a como ninguém outro. Os seus semelhantes não souberam da existência dela por muitos anos, pois ela era a própria escuridão, a noite silenciosa conhecida por muitos posteriormente. Ela nunca tomou para si lado algum nessa guerra, sempre na espreita, sempre escondida. Mas odiava a luz e seus viventes.
         É dito que o poder dos dragões fluía cada vez mais por todos os lados, o fogo tomou consciência, mas a própria terra também nutriu vida. E dela surgiu Behelter, ou como muitos o chamam, A Montanha Viva. Ele erá o único de seus semelhantes que não possuía asas, pois, de todas as formas, amava a terra. Nasceu presenciando a guerra, e tomou raiva de Átropos e de Faergun, pois estes maculavam a terra sem proposito.
      Em tempos semelhantes, onde a vida se propagava em sua forma mais rústica, o próprio vento desejava liberdade. Liberdade das asas de Eldrian, do ódio de Átropos, da fúria de Faergun. E dessa vontade nasceu Ellvis, o grande dragão dos ventos. E prezava acima de tudo pela liberdade, não se prendia a nenhum juramento ou desejo de outros, sempre livre, nunca se prendendo a desejos supérfluos. 
       As lutas estavam cada vez mais violentas, cada vez mais mortais. Cada dragão tinha seus motivos, seus ódios, seu ego, mas muitas alianças foram formadas e desfeitas neste tempo. A tristeza era frequente. É dito que, a cada batalha, a cada derrota, todos os dragões derramavam lágrimas de pesar, de raiva, de felicidade. Essas lágrimas encheram o mundo, e dessas poças outro dragão nasceu. Syphius inundou o mundo com sua primeira remessa de existência. Ela era a mais inconstante de todos e, assim como as marés, seus desejos mudavam como o vento.
     Dito isso, tenho que lhes informar que nós ainda não havíamos chegado nesse mundo. Tudo o que havia nesses tempos eram elementais, e seres de formas que nunca vamos descobrir. Mas a vida era sempre misteriosa. Em muitas histórias dos tempos mais remotos, é dito que surgimos dos sonhos dos dragões. Diz-se que a primeira raça a pisar na terra foi a dos anões, mas temos dúvidas em relação a isso.
    Behelter desejou, em seu íntimo, companheiros os quais que pudesse compartilhar suas paixões, sua lutas, seus pesares e suas felicidades. Em um de seus sonhos uma forma surgiu, sentiu um grande calor brotando em seu ser e, quando acordou, um grupo de 13 anões esta em sua frente, adormecidos.
    Desde então, muitos outros dragões invejaram esses novos seres. É dito que Átropos tentou fabricar seus próprios seres, porém criaturas incompletas e abomináveis nasceram desses experimentos. Mas em todas as partes novos seres surgiam, sempre em grupos de 13 e após os sonhos dos dragões.
     E de Eldrian veio os humanos, e de Faergun veio os gênios, e de Ellvis veio os Acrakoas, e de Ulneia veio os gnomos, e de Átropos veio os demônios. A vida proliferava, o verde brotou da terra, e dessa nova vida brotou Garmash, o dragão das florestas e da vida, e dele veio os elfos e os orcs. Desde então a vida proliferou e a paz tomou forma por muitos anos.   
     Devo admitir que essa parte da historia nunca foi precisa para muitos estudiosos como eu, mesmo sempre conversando com clérigos, magos e outros sábios, nunca chegamos a um consenso. Dito isso, Ocorius fora um dragão, vindo dos céus, no período de paz. Ele trazia consigo preocupações, e muitas falácias. Não se sabe como ele surgiu, se foi das próprias estrelas ou uma força do próprio universo para balancear a guerra, mas esse dragão tinha seu corpo coberto por estrelas, como se ele próprio fosse feito do pó das estrelas.
      Ocorius observou a terra por muitos anos, e muitos dos outros dragões destetavam isso, principalmente Ulneia. As suas conversas era sempre de saberes além da forma terrena, e que o segredo de todas as coisas ainda descansa no fundo do reino de cada um de seu semelhante. É dito que ele foi a lua, e na lua viu um pequeno ser luminoso sentado em uma rocha. Ao se aproximar notou que se tratava de um velho senhor, e ele segurava em suas mão uma pequena flauta, e então Ocorius perguntou:
          — Quem eres tu, pequeno ser? Tua presença me intriga, e tua forma não me é familiar. — disse ele, em um tom neutro.
        Depois de um curto período de tempo, o ser luminoso mudou de posição e lhe direcionou a palavra:
           — Não sou nada meu belo dragão, em tempo algum fui alguma coisa. — disse ele com uma voz suave. — Mas pode me chamar de Ocracion, assim que me chamam.
           Ocorius pareceu incomodado, há muito tinha vivido e muito tinha visto (como lhes dissera antes, nessas partes nossos entendimentos variam, por que não sabemos por onde ele foi ou o que viveu, mas nos manuscritos antigos ele é sempre retratado como o mais velho), mas aquele ser não se assemelhava a nada que tinha conhecido.
            Mais uma vez peço perdão, pois os 6 papiros com o restante dessa conversa foram queimadas nas cruzadas de Faergun do ano 8 depois da lua-sol.
              Digo-lhes isto, muito tempo se passou dessa era, esses dragões deixaram de ser apenas seres divinos, tornaram-se imperadores. Porém nenhum deles sobreviveu a o dia da lua-sol (sobre esse assunto, consultem o livro IV da coletânea historias de tempos imemoriáveis) e seu espíritos vageiam pela terra, escolhendo, entre os mortais, alguém que possa herdar os poderes deles.
             Esse rituais são feito de 5 em 5 anos, na qual o receptáculo tenha alcançado um nível de clareza sobre o imperador que vá possuí-lo. Sabemos que todos os receptáculos tem o mesmo sonho: dois senhores entregando varias cartas em uma mesa. O individuo escolhe uma ou varias, porém o que sabemos é que, quanto mais cartas ele consegue olhar, mais o destino é cruel com ele. Mas apenas um efeito é valido por carta. Ou seja, essas pessoas tem habilidades que não compreendemos, não são consideradas mágicas.
                 

               Dedico esse conto para as crianças do orfanato de Elius em Ferrís.
               De seu protetor Aidan Gron, Clérigo de Eldrian  
               1 de setembro de 3522 DLS ( Depois da Lua-Sol) 

O livro de segredos

                O homem calvo andava apressadamente por entre o jardim do castelo, carregava consigo um livro. Um especial, sua capa era de...